4 de dezembro de 2011

IV

    Quando cheguei a casa só queria dormir, dormir e dormir. E só de pensar que amanhã tinha que ir almoçar a casa dos meus pais até ficava mal-disposta. Os meus pais antes do meu irmão nascer estavam sempre a mudar de casa, por isso é que aos sete anos fui forçada a deixar o Ricardo, para vir viver para Almada. 
Já vivi na Costa da Caparica, em Sintra, Oeiras e muitos mais locais. Mas sempre gostei muito de viver em Mafra, pois foi em Mafra que passei maior parte da minha infância com o Ricardo. Como já sabem nós éramos vizinhos, cada um vivia numa vivenda a norte de Mafra. Ó meu Deus, depois de mudar-me, todos os locais que já disse perdi o contacto com o Ricardo.
   O meu irmão nasceu em 2005, foi uma gravidez arriscada, a minha mamy já tem uma certa idade. Eu nessa altura tinha 13 anos e recusei-me a mudar de novo de casa. Já tinha amigos, e foi nessa altura que conheci a Sara e o Diogo. Fiquei a viver com a minha tia até entrar para a Universidade, e quando entrei, mudei-me para um apartamento em Almada. 


Bem, vou tomar um banho pois estou com a roupa toda molhada de água salgada. A campainha toca quando já estou a tomar o meu banho lá vou ter de ir abrir a porta.


Joana: Sara, olá minha linda. - disse eu, tentando ser querida.
Sara: Olá? Joana estou muito chateada contigo. Mas o que se passa? Tens noção que desmarcaste tudo comigo? 
Joana: Sarinha linda, eu já te explico tudo. Senta-te e mete-te à vontade enquanto eu vou terminar o meu banho.
Sara: Despacha-te! - Ela falava num tom autoritário.


Enquanto estava no duche, estava a pensar no que deveria dizer à Sara.Optei por lhe contar tudo, sim... TUDO. Ela merece saber, afinal ela  é a minha melhor amiga, a quem eu posso confiar tudo. Vesti um robe e diriji-me até à sala.


Joana: Pronto, cheguei. Podes gritar agora! - estava a tentar ter graça.
Sara: Joana pára de ser sarcástica. E conta-me o que aconteceu para desmarcares tudo comigo. Foi o Diogo? - disse com preocupação e alguma descontentação.
Joana: Nop.
Sara: Os teus pais?
Joana: Nop e nop.
Sara: Ó Joana, para desmarcares as coisas comigo foi algo importante, nunca desmarcas nada comigo.
Joana: Pode-se dizer que não foi muito importante, mas lá tem a sua importância.
Sara: Ok, e que tal dizeres de uma vez por todas?
Joana: Ontem à noite o Diogo veio cá jantar,  e discutimos porque não estava com vontade de...
Sara: Ele contou-me.- Ela interrompe-me.
Joana: O quê? - disse com raiva.
Sara: O que se passa contigo Joaninha?
Joana: Reencontrei um amigo que não via à anos, só isso.
Sara: Que isso tem a ver com o que estamos a falar? - Fez-se desentendida.
Joana: Sara, eu já não amo o Diogo como amava, e tu sabes disso.
Sara: Pronto, já vi este filme todo. Vou pegar na lancheira das bolachas e sentar-me porque de certeza há aí coisa.
Joana: Sara.... Deixa-te disso.
Sara: Podes começar!
Joana: Oook, encontrei o Ricardo...
Sara: Ah! Então é Ricardo que ele se chama. Vá continua... - interrompeu-me de novo.
Joana: Eu continuo se não me interromperes. - disse eu, resmungando. - Foi tão bom reencontrá-lo já não nos víamos desde os 9 anos de idade...
Sara: Oh que lindo, dez anos separados.
Joana: Saraaaaa!
Sara: Desculpa, continua.
Joana: Como estava a dizer, encontrámo-nos na baixa, ao inicio não me reconheceu mas depois abraçou-me como  nunca alguém me tinha abraçado. Deu-me o seu número de telemóvel e hoje de manhã mandou-me mensagem. - mostro-lhe a mensagem.
Sara: Foi por isto que me trocaste?
Joana: Sim Sarinha linda e fofinha, desculpa. Mas não sei que me deu, o meu instinto mandou-me ir.
Sara: Sim, sim, sim. Agora a culpa é do teu instinto.
Joana: Sara, nós beijámo-nos.
Sara: Hã? - ela ficou completamente parva e feita estátua a olhar para mim.
Joana: Pois, o que é que eu faço agora? Beijámo-nos eu parei o beijo, literalmente obriguei-o a pôr-me a casa e depois disso não lhe dirigi mais a palavra.
Sara: Pois, agora não sei que dizer. Pensei que tinhas desmarcado tudo comigo porque eventualmente o gato da tua mãe morreu e tu foste consolá-la. - disse sarcasticamente. - JOANA, vou apenas ficar calada durante 2 minutos, preciso de pensar.
Joana: Ó vá lá, fala logo!
Sara: Tu andas a pensar nele!? - Ela percebeu tudo.
Joana: Sim.
Sara: Acho melhor ires falar com o Diogo.


Nesse momento o Diogo manda-me outra mensagem, sim... A outra de manhã nem cheguei a abrir. A 1ª dizia «Joana, precisamos de falar!» e a 2ª dizia «O que se passa? Não respondes? Está tudo bem? Já te tentei ligar mas parece que não tens rede ou bateria. Aparece no parque, vou estar lá a fazer jogging.»


Sara: Vai.
Joana: Tens a certeza?
Sara: Sim Joaninha. Conta-lhe tudo, já está na hora de acabares com esta relação.
Joana: É isso que vou fazer. Obrigada amiga.


Peguei nas chaves e na mala castanha que tinha comprada à duas semanas atrás e fui até ao parque, que ficava sensivelmente a 5 minutos do prédio. Sentei-me no banco onde toda a nossa história tinha começado e esperei até que ele me visse e se fosse sentar ao meu lado.


Diogo: Joana... - Falou num tom de voz baixo.
Joana: Olá Diogo.
 Ele aproxima-se para me dar um beijo mas eu apenas desvio a cara e digo:
Joana: Precisamos de falar.
Diogo:  Também acho. Não parei de pensar porque me fizeste aquilo ontem à noite.
Joana:  Diogo espero que compreendas, eu quero dar um tempo. - senti-me aliviada, por finalmente conseguir fazer aquilo que mais receava.
Diogo: Mas... O que se passa? - Ficou sem reacção.
Joana: Não está a resultar.
Diogo: Joana, não podes fazer isto, eu amo-te. - ele começou a ficar descontrolado.
Joana: Eu sei que é complicado, namoramos à 3 anos mas compreende o meu lado.
Diogo: Na semana passada estava tudo bem. O que mudou?
Joana: Depois falamos Diogo.
Diogo: Joana? Não vás embora. JOANAAAAA... - gritava. - Eu não vou desistir de ti.


Eu limitei-me a seguir em frente, estava sem paciência para as cenas do Diogo. Custou, mas finalmente consegui, apesar de não lhe ter contado o que se tinha passado de manhã.


«Ricardo, estás a mudar a minha vida»  - sussurrei à ida para casa.


Continua.