20 de dezembro de 2011

XII

  Fui arrumar a cozinha e lavar a loiça, sim, porque não há máquina de lavar loiça. Fui até ao meu quarto e do Ricardo e fui arrumar as minhas coisinhas. Olhei através da janela do quarto e vi que a praia ficava sensivelmente a 5/10 minutos de casa. Já conseguia cheirar a brisa marinha, e a areia a fazer-me cocegas nos pés. E ainda por cima a praia estava completamente deserta, devia ser daquela com acesso difícil ou algo do género, e assim ainda melhor pois dava para reflectir ou quem saiba mesmo meditar. Fui vestir um biquíni e agarrei na mala e sai porta fora. Cheguei à praia e bem perto das ondas sentei-me a olhar para o horizonte, fiquei imóvel durante 20 minutos.
   As memórias do tempo feliz que passei com o Diogo passavam-me pelo pensamento à mistura com as ultimas emoções que passara com o Ricardo... Uma verdadeira confusão.E os pensamentos começaram a ser mais intensos quando...

Joana: Hey, cuidado não? Tanto espaço  e tinha logo que passar mesmo ao meu lado. - Limpando a areia que me tinha entrado pelos olhos e pela face.
Desconhecido: Acontece minha querida. - disse enquanto corria com uma prancha de bodyboard debaixo do braço.
Joana: Ah mas que lata, ao menos pedias desculpa!
Desconhecido: Porquê? Elas não se pedem, evitam-se.
Joana: Muito bem, ao menos sabes alguma coisa. E como tal evitavas passar ao meu lado para que não levasse com areia na cara.
Desconhecido: Quem está mal que se mude.
Joana: Ai eu não acredito nisto. - disse enquanto fazia uns sons animalescos.
Desconhecido: É melhor começares a acreditar.
Joana: Não sei onde anda a tua boa educação.
Desconhecido: Perdi-a.
Joana: Boa, então.
Desconhecido: Até logo, vou apanhar umas ondas.
Joana: Adeus.
Desconhecido: Não vás já, depois quero ter uma conversa civilizada.
Joana: Contigo deve ser impossível.
Desconhecido: Se esperares logo verás.
Joana: Adeus.

Ele começou a afastar-se e eu não tirei os olhos dele, vestiu o fato e começou a fazer alongamentos. De certeza que o fazia porque eu estava ali, parece tão convencido e não é flor que se cheire. Ok, eu estava um bocado irritada mas queria ver a parvoíce que ele fazia com a prancha, para vir para uma praia deserta com certeza que iria fazer figura de otário. Mas, afinal safava-se bem.  E quando ele estava a sair da água eu levantei-me num relance e comecei a ir embora, para que ele não percebesse que na realidade estive este tempo todo à espera dele, e a admirar aqueles seus movimentos.

Desconhecido: Espera. - Grita.
Joana: Ó meu Deus. - falava para mim enquanto andava cada vez mais rápido.
Desconhecido: A sério, espera. - Gritava cada vez mais alto e corria na minha direcção.
Joana: Para quê? - respondi-lhe.
Desconhecido: Apanhei-te. - disse enquanto me agarrava no braço.
Joana: Sim, agora já me podes soltar.
Desconhecido: Nem por isso é uma sensação boa.
Joana: Sim, é um delírio pegar no braço de uma desconhecida.
Desconhecido: Porquê que cá vieste? - disse num tom de voz totalmente diferente que já ouvira antes.
Joana: Vim à praia, é o que as pessoas normais fazem no verão. Ah mas como não és normal deve ser estranho para ti. Eu compreendo.
Desconhecido: Sim, sim, sim. Podes-me chamar anormal as vezes que quiseres mas diz-me o que fez vir a esta praia.
Joana: A brisa marinha. - disse enquanto fechava os olhos e voltava a cheirar a tão intensa brisa.
Desconhecido: Deves ser a única.
Sara: Joanaaaaaaa. - Gritava de lá de cima perto de casa.  - Anda, é a tua vez de fazer o jantar.
Joana: Vou já.
Desconhecido: Parece que moras aqui.
Joana: O que isso te interessa?
Desconhecido: Absolutamente nada.
Joana: Então, tchauzinho.
Desconhecido: Vejo-te por aí.
Joana: Ou não.
Sara: Anda. - Gritava.
 Continua.