31 de janeiro de 2012

XXI

  Aquele silêncio constrangedor estava-me a perturbar imenso. Talvez isso não acontecia com ele, talvez tivesse a gostar de estar ao meu lado e sentir a minha respiração inquieta e incontrolável. Era um momento inesquecível, tenho a certeza que aquele simples momento nunca me sairia da memória, nem mesmo se alguma vez sofrer de alzheimer. Estávamos deitados nas dunas à pelo menos meia hora, e não haviam palavras construídas nem pensadas para dizer naquele momento, com medo de o estragar. Num movimento repentino, virei a cabeça na sua direcção e os nossos olhares cruzaram-se e embrulharam-se durante algum tempo. Não sabia se iria estar a olhar para mim, nem mesmo se tinha passado aquela meia hora insuportável  a olhar para mim... A verdade é que estava farta de estar calada, então mudei isso.

Joana: Olá... - sussurrei à medida que me virava de frente para ele.
Salvador: Gostas?
Joana: Adoro. - soltei um enorme sorriso envergonhado.
Salvador: Estava com receio que não gostasses.
Joana: Porquê?
Salvador: Porque nunca trouxe ninguém aqui. - disse num tom de voz muito baixo.
Joana: Porquê eu?
Salvador: Não sei.
Joana: Nunca sabes nada. - disse meio triste com as respostas curtas e sem sal que ele me dava.
Salvador: É difícil exprimir o que sentimos.

Ok... Foi aí que me arrependi imenso de ter tido a iniciativa de começar a falar. Exprimir sentimentos? Isto está a ficar muito mas, mesmo muito estranho. Mal o conheço, e mal ele me conhece como pode estar a dizer isso. Bem, eu também posso estar a confundir as coisas, sim só pode. Aquele silêncio maldito voltou a aparecer para meu espanto, não voltei a ter iniciativa. Então, só restava-lhe a ele começar a dizer alguma coisa. E claro que disse.

Salvador: Queres ir à água?
Joana: Deve estar tão fria. - fiz uma cara de descontente.
Salvador: Anda lá. - agarra-me no braço, provocando-me um arrepio pela espinal medula.
Joana: Está bem.

Fomos andando pela areia, que me fazia imensas cocegas ao ponto de soltar pequenos risinhos no caminho para uma pequena lagoa debaixo da grande rocha de 4 metros que passámos para ir para as dunas onde estivemos durante sensivelmente 1 hora, sem falar.

Joana: Que lindo.
Salvador: Gostas, Joana?
Joana: Gosto imenso. - abracei-o. - Obrigada por me teres trazido aqui estou a adorar.
Salvador: E eu estou a adorar ter-te nos meus braços. - sussurrou-me ao ouvido.
Joana: Não digas isso. - continuei a abraça-lo.
Salvador: Porquê? Tens medo de algo?
Joana: Tenho.
Salvador: Do quê? - fez-se desentendido, é óbvio que ele sabia do que receava.
Joana: Salvador... - disse baixinho, no mesmo instante que o deixava dos meus braços.
Salvador: Sim...



 E o momento era super especial estávamos envolvidos, e parecíamos os protagonista de um filme romântico onde só nós éramos os principais e os outros os secundários, na verdade estávamos tão envolvidos que nos esquecíamos das consequências. A água da lagoa estava inquieta, e balançava enquanto nos tocava nos tornozelos, ficámos frente a frente, corpo a corpo, e olhos nos olhos.

Joana: Vou-me embora. - Peguei nas minhas coisas, e fui em direcção a casa.

No caminho para casa, pensava na minha atitude tomada à minutos atrás. E fui-me arrependendo ao momento que o tempo decorria, ele simplesmente viu-me a ir embora sem desviar o olhar mas com os lábios colados um no outro. Estou preocupada comigo.

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