24 de junho de 2012

IV

    - Olá. - foi a única palavra que consegui pronunciar. Ela estava linda, a cor do seu cabelo penetrava-se nos meus olhos, a sua pele esbranquiçada estava mais claro do que da última vez que a vi, e os seus olhos brilhantes transmitiam-me tristeza e dor.

Via os seus lábios mexerem à medida que dizia algo mas, eu estava completamente hipnotizado por ela e nada ouvi e não me mexi, até ao momento que caiu uma lágrima dos seus belos olhos esverdeados. Ela envolveu-se em mim, num apertado abraço.
- Isto vai passar, Joana. - disse como um suporte de apoio, temporário.
- Não ouviste o que te disse? - estou lixado, pensei - Eles vão desligar as máquinas se brevemente não existirem melhoras.
- Mas, pensa positivo. Vão existir melhoras.
- É difícil de acreditar nisso. Duvido muito.
- Eu também duvidava em relação ao encontrar-te novamente.
- O que estás aqui a fazer? A Matilde pediu-te para vires? - desviou o assunto.
Desde quando é que a Joana sabe que me dou com a Matilde?, perguntei-me.
- Sim mas, ... - ela interrompe-me.
- Existem muitas coisas que eu sei que tu não sabes que eu sei.
- Estás a tentar intimidar-me? - provoco-a.
- Até podia estar mas, não estou Salvador. - o seu rosto der repente ficou ainda mais melancólico - Vou entrar.
- Mas a Matilde... - interrompe-me de novo.
- Eu e a Matilde tornámo-nos boas amigas.

     Boas amigas? Desde quando é que elas são amigas? E agora boas amigas? Estou completamente indignado.
O ambiente tornou-se tenso e obscuro, sentia-me mal. Passei por todos os corredores do hospital, via macas a entrar a toda a velocidade e vezes sem conta enquanto fazia o meu percurso. Via pessoas a chorar ou a sorrir devido a um acidente ou a uma recuperação. Via pessoas a gritar com funcionários, enfermeiros, médicos e até com membros de famílias, estava tudo descontrolado nas Urgências. Finalmente, abri a porta e sai para a rua, continuava a chover mas desta vez chovia a potes. Eu quero lá saber, infiltrei-me pelas gotas e sentei-me num banco longe da entrada das ambulâncias e longe do parque de estacionamento, num lugar completamente isolado, peguei no meu BlackBerry e mandei uma mensagem à Matilde. Estava encharcado, mas eu queria lá saber, a merda do sentimento voltou e agora não sei como voltar a tirá-lo de mim.

- Salvadoooor - chamava a Matilde perto da entrada de ambulâncias, acenei-lhe e segundos depois estava ela comigo. - O que te deu? Está a chover imenso.
- Queria espairecer um bocado, não estava a gostar do ambiente lá de dentro.
- Assustaste-me. Sei que te encontraste com a Joana.
- Sim...
- Ela disse-me. - a sua expressão facial contraiu-se.
- Pois, parece que agora são boas amigas.
- Vamos para casa, a Joana vai connosco, importaste?
- Não, claro que não. - na verdade importo-me, pensei.


  A viagem não foi das melhores. Eu num carro com a rapariga que em tempos me apaixonei e outra que se apaixonou por mim à uns tempo, perfeito!



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