Subimos ate ao apartamento da Matilde, eu fiquei sempre por último e para estranhar o silêncio que costuma assombrar a minha vida apareceu com mais força do que nas últimas vezes. Mas, finalmente abriu a boca.
- Eu vou-me deitar bem preciso, e tu Salvador importaste de ficar no sofá? - disse a Matilde.
- Não, é na boa. - assenti com a cabeça.
- É uma porcaria ter um T1.
- Melhor que nada amiga. - disse a Joana. Amiga? faz-me imensa confusão vê-las assim. Logo assim, deixei a sala e dirigi-me à cozinha, e bebi o meu famoso copo de leite e sentei-me numa da pequenas cadeiras.
Comecei a olhar para o tecto e lembrei-me de imensas coisas, imensas conversas, imensas ondas que apanhei, o dia que conheci a Joana... Até mesmo da noite que passei com a Matilde. «Tenho de mudar, a Matilde tem de saber que somos apenas amigos, e tenho de dizer à Joana que não me é indiferente, e o mais importante abrir-lhe os olhos» , pensei. Segui até à sala e estava tudo calado, a Matilde tinha-me deixado um edredão para me cobrir caso tivesse frio durante a noite, deitei-me e segundos depois adormeci.
* * *
Acordei sobressaltado, veio um barulho estranho da cozinha. Peguei no meu BlackBerry, desbloqueei-o e vi que eram 04:47 da manhã, dirigi-me logo à cozinha.
- Desculpa, Salvador.
- Não faz mal, Joana.
- Desculpa mesmo, queria aquecer leite e fiz um barulheiro com as panelas à procura de uma cafeteira. - fez uma cara envergonhada.
- Posso-me juntar a ti?
- Claro que sim.
« Tenho que lhe dizer, é agora.»
- Tenho que... - desisti.
- Tens?
- Tenho que ir à casa de banho.
- Ok. - lançou um sorriso vulgar.
Segui até à casa de banho, olhei-me ao espelho e só disse baixinho « FUCK » , recompus-me puxei o autoclismo para que ela pensasse que tinha mesmo ido à casa de banho. Apareci na cozinha e já estava sentada à minha espera com bolachas e a molhá-las na caneca de leite a ferver. Sentei-me e ela continuava a olhar para mim sem parar, eu mantinha-me a olhar para o copo de leite e soprar.
- O que sentes pela Matilde? - disse com um tom de voz arrogante.
- O quê?
- Foi o que ouviste Salvador.
- Eu não sinto absolutamente nada.
- Ai não? Então porquê que vieste logo quando ela te pediu? E porquê que não é isso que ela me diz?
- Ei, calma, porquê tanta preocupação nisso?
- Apenas quero saber.
- Se quisesses apenas saber não me falavas desse jeito.
- Não me desmentiste nada, é porque o sentimento dela é mutuo.
- Não tenho nada para desmentir, Joana.
- Perdi a fome. - saiu da mesa e fez ranger a cadeira, deixou as coisas para arrumar e foi para a varanda. Eu esperei um pouco bebi o outro copo de leite e comi uma bolacha de chocolate, arrumei a minha loiça e a dela e dirigi-me à varanda também. Ela estava imóvel a olhar para o rio ao fundo iluminado pelas luzes de Lisboa. Fui-me aproximando sem que ela desse conta de mim, já estávamos quase corpo a corpo e eu coloquei os meus braços em volta da sua barriga.
- Que estás a fazer?
- O que à muito gostaria de ter feito. - sussurrei.
- O Ri... - interrompi-a antes que terminasse de dizer o nome dele.
- O Ricardo traiu-te.
- Cala-te e larga-me. - tirou os meus braços da sua barriga e voltou-se para mim com um olhar de dor.
- É a verdade Joana, ele traiu-te com uma qualquer, eu sei disso.
- Tu não sabes nada.
- Sei, sim. Sei que não me sais da cabeça desde das primeiras vezes que falamos e tivemos juntos.
- Não desvies o assunto. - ela baixou a cabeça, e eu com a minha mão puxei-a para cima.
- Estas a sofrer por quem não merece. - as nossas cabeças aproximavam-se cada vez mais e ...
- Não pode ser, Salvador.
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